Tiros e tumultos em manifestações dos Agentes de Saúde do Ceará
WALESKA SANTIAGO
Pedras e outras barreiras proibiam o acesso na Pontes Vieira até as 16h
Divulgação do Jornal dos Agentes de Saúde do Brasil
AVENIDA PONTES VIEIRA
Tiro e tumulto congestionam a via
Cobertura completa da Greve dos Agentes de saúde e endemias de Fortaleza
Durante a manifestação de servidores municipais, uma pessoa armada atirou no grupo, mas não houve feridos
Deveria ser apenas mais uma das tradicionais manifestações de
trabalhadores em greve em frente à Secretaria de Administração do
Município (SAM), na Avenida Pontes Vieira esquina com a Desembargador
Moreira. Entretanto, tiros e tumultos tornaram o clima mais tenso que de
costume, causando desespero em que passava no local, durante o fim da
manhã de ontem. A ação ocorreu durante mobilização de agentes
comunitários de saúde e de endemias da Capital.
Segundo relato da diretora executiva do
Sindicato dos Agentes Comunitários e Sanitaristas do Ceará (Sinasce),
Lia Sousa, um homem que, segunda ela, se apresentou como sendo
policial, avançou contra a multidão que fechava toda a via. "Ele jogou o
carro em cima da gente, gritou e chegou até a mostrar um revolver.
Atirou para cima e por pouco não acerto em ninguém. Imagina o risco
grande corremos?", relata, angustiada, Lia Sousa.
Além do susto, alguns manifestantes ainda relataram fraturas e traumas
nas pernas e braços por conta da velocidade da batida do veículo
particular. "Por pouco não morri. Eu pensei que ia ser atropelada. Se já
não bastasse o desrespeito do poder público com a gente, vem um louco e
machuca a gente", afirma a agente comunitária Maria das Dores Paixão,
33. A trabalhadora apresentou manchas roxas nas costas e também nas
coxas.
Conforme o grupo, até o fim da tarde de ontem, o cidadão armado não
havia sido identificado ainda. A Secretaria de Segurança Pública e
Defesa Social (SSPDS) comunicou que não recebeu nenhuma ocorrência desse
tipo e não reconhece a ação. A Polícia Civil também não confirma que o
tiro tenha saído da arma de algum membro da corporação. Um dos vídeos,
gravados pelos manifestantes, chega até a identificar o tal homem,
revela a arma e apresenta a placa do veículo de cor branca, numeração
NUS-9203, de Fortaleza.
Trânsito
Outro transtorno foi o grande congestionamento que se espalhou por toda a
Avenida Pontes Vieira. Os dois lados da via, nas proximidades da
Assembleia Legislativa, ficaram interrompidos até por volta de 16h.
Pedras, veículos, motos e demais barreiras proibiam o acesso.
Não faltou, é claro, muita reclamação dos motoristas e buzinaço dos mais
impacientes. Trabalhadores e estudantes, que tentavam se deslocar na
hora do almoço, foram os mais prejudicados com o fluxo todo parado.
A dona de casa Samanta Torres, 42 anos, diz ter perdido a paciência. O
simples trajeto da escola para a casa, que normalmente durava 10
minutos, durou quase uma hora de muito calor e dor de cabeça. "Toda
semana tem trabalhadores fazendo greve e atrapalhando o trânsito. A
Prefeitura devia logo pagar melhor esse pessoal para evitar tantas
manifestações de uma vez só", reclama Samanta.
Com o desvio dos carros que não podiam seguir pela Pontes Vieira, as ruas secundárias também seguiram congestionadas.
Negociação
Após aglomeração na manhã de ontem, o grupo foi recebido por gestores da
SAM. A pauta principal do grupo, de acordo com o diretor de base do
Sinasce, Hélio Castro, seria um aumento real salarial de 33%, isonomia
salarial entre agentes comunitários de saude e os de endemia, maior
ajuda de custo, melhorias no fardamento e nos instrumentos de proteção.
"Nem um simples protetor solar de qualidade a gente ganha. Pedem que a
gente faça 16 visitas por dia, andando a pé e no sol quente. É muito
para um dia só, cai até a qualidade do nosso atendimento", reclama
Castro. Ao final da reunião de ontem, o sindicato anunciou que a greve,
iniciada desde sexta-feira, continua. De acordo com o grupo de
servidores, nenhum dos pontos foram atendidos a contento pelos mais de 4
mil trabalhadores da área de saúde.
A SAM informou que a
Prefeitura Municipal de Fortaleza está em
negociação com as entidades representativas dos servidores e empregados
municipais, concentrando todos os esforços para chegar a um entendimento
sobre a negociação salarial 2012 com as categorias.
A gestão apresentou, no último dia 30 de janeiro, as seguintes
propostas: de data-base para janeiro de 2012, renovação das cláusulas do
Acordo de Trabalho vigente, agilizar o processo de aquisição de
fardamento e protetor solar, implementar medidas de melhorias das
condições de trabalho, projeto de Lei sobre o Assédio Moral e
encaminhamento do projeto de lei para os Planos de Cargos e Salários.
Quadro
4.095 servidores compõem a atual categoria dos agentes comunitários de saúde e endemias, segundo
Sindicato dos Agentes Comunitários e Sanitaristas do Ceará (Sinasce)
33% é o pedido de aumento salarial real exigido pela categoria em greve
desde a última sexta feira. Além disso, eles pedem isonomia e melhorias
no fardamento